Os Oscars aproximam-se e hoje estamos aqui para vos falar de um filme que tem várias nomeações. O Conclave. Não vamos falar de cinema nem necessariamente de religião, embora seja inevitável, mas sim de como uma pintura foi tão importante no guião e na montagem deste filme.
Para começar e, como o nome indica, o filme passa-se durante um conclave. E como a maioria deve saber, o conclave é um ritual da Igreja Católica que acontece após a morte ou a renúncia de um Papa e serve para eleger um novo Papa.
Portanto o Colégio de Cardeais é reunido e o conclave é feito às portas fechadas na Capela Sistina no Vaticano, até que seja eleito um novo Papa. Leve o tempo que levar, é preciso que o escolhido tenha recebido mais de dois terços dos votos, por isso pode ser um processo longo e desgastante.
Sendo que o filme se passa no Vaticano, principalmente na Capela Sistina, é natural que o plano de fundo em muitas das cenas seja o Juízo Final, um fresco de Michelangelo que representa a sua visão pessoal do final dos tempos, ou seja, o dia em que Deus julgará e condenará ou salvará todas as pessoas que já viveram.
Ao contrário de outros Juízos Finais feitos por outros artistas, Michelangelo substituiu as representações de torturas físicas pela expressão de agonia espiritual, visível nos corpos contorcidos, e pelo próprio enquadramento que cria uma atmosfera emotiva e turbulenta.
Podemos ver as figuras de Cristo e de Maria ao centro, e do seu lado direito temos os mortos que se erguem dos túmulos em direcção ao Céu. Do outro lado, temos Caronte e a sua barca para transportar os pecadores para o Inferno. Curiosamente, este é o lado que faz sempre contacto visual com a personagem principal do filme e, consequentemente, connosco enquanto espectadores.
Aqui a nossa personagem principal é o Cardeal Lawrence que é encarregue de conduzir todo o processo e de liderar a eleição do novo Papa. E é óbvio que durante este período há todo um jogo político cheio de intrigas, de forma a que determinados cardeais e os seus interesses sejam favorecidos nas votações.
A trama deste filme desenvolve-se à volta disso mesmo: dos mistérios, das conspirações, da moral e da ética, à semelhança da pintura em questão. Aliás, começamos com 4 favoritos à posição de Papa e esse número vai reduzindo à medida que a narrativa do filme e o escrutínio da vida de cada um se vão desenrolando, sendo eles obrigados a afastarem-se da posição.
Por isso, este é um filme que aborda a questão da fé de vários pontos de vista, em particular no caso do Cardeal Lawrence, porque ele é alguém que tem sentido dificuldades com a sua fé, com a sua comunicação com Deus, e sabemos desde cedo que ele não quer o Papado.
The Last Judgment is so present in the film that it speaks to us and to Lawrence almost as if it was a character too. Especially because whenever Lawrence goes to the ballot urn to cast his vote, he looks at this fresco almost as if asking for some kind of sign or even permission, and as if the fresco was a witness to his choice and were judging him for it. Basically, it is as if the artwork itself was paying attention to the members of the conclave and sentencing them either to Heaven or to Hell based on their votes.
E realmente, todos os que já tiveram a oportunidade de visitar a Capela Sistina podem testemunhar que este fresco em particular é uma visão totalmente avassaladora.
Não é à toa que ao longo do filme, os olhares do Lawrence para o fresco revelam quase uma sensação de dúvida e de medo pelas figuras dos demónios que não deixam os pecadores subir ao céu. Quase como se a decisão do conclave fosse supervisionada pelo Juízo Final. E isto vem possivelmente da responsabilidade do Lawrence para conduzir a Igreja no melhor caminho e por se sentir quase um impostor, uma vez que tem dúvidas em relação à sua fé e ao seu papel na Igreja.
Em suma, o Juízo Final serve para guiar este conclave.
Atenção que agora há um grande spoiler! Fica o aviso!
Para terminar, é no momento em que o Cardeal Lawrence muda o nome em que tem estado a votar e vota nele mesmo, que uma explosão no exterior acontece. A explosão parte algumas janelas e faz com que a única parte do fresco que fica iluminada seja as figuras dos demónios que o têm atormentado ao longo do filme. E é nesse momento que o próprio Lawrence olha para o fresco e percebe que não fez a escolha certa. E é esse sinal de que ele estava à procura e que o faz mudar de rumo na última votação.
Esta é a nossa leitura do filme e da forma como o Juízo Final entra na narrativa e ajuda a contar a história. Será que vocês tiveram a mesma interpretação que nós?